quinta-feira, 26 de março de 2015

Se essa rua fosse minha

      Aqui jaz uma história de serviço e dedicação
Defendo a tese de que nome de ruas e praças não deveria contemplar quem nunca teve laços com elas. O presidente, governador e prefeito só teriam seus nomes nos logradouros caso houvesse um laço que os ligasse. Seus parentes ou aderentes, nem se fala. As ruas e praças pertencem a quem delas cuida, quem nelas vive e faz uso. Acho ainda mais justificável aquela figura folclórica, seja ela um bêbado, um “doido”, alguém cujo nome dê sentido à placa indicatória: “Rua João Barata”, “Praça Maria Beleza”.
Nelson Andrade de Oliveira, por exemplo, tem seu nome em uma das ruas esperancenses. Foi uma das mais sábias indicações já ocorridas no município. Mas, ao contrário do que muitos pensam, ninguém, ou quase ninguém, o conhece. Aquela placa indicatória faz menção ao empresário do ramo farmacêutico, mas só reconhecido pela alcunha de “Nelson da Farmácia”, cujo empreendimento era mera formalidade, igual Didi de Lita aqui já lembrado. O fato é que Nelson tinha sua farmácia como um detalhe, o que ele gostava mesmo era atender aos transeuntes, pessoas que iam e vinham na empresa de transporte passageiro contígua à Farmácia São Pedro.
Venho à Esperança instruído, ao telefone, por Silvestre que viria a ser meu sogro. Traça-me o percurso e me fala da empresa de transporte que me traria e, enfim, sobre a parada à chegada. “Um senhor irá abordá-lo e perguntar para onde vai. Diga que quer ir à casa de Silvestre Batista”. Tudo parecia combinado. À chegada, ao descer do ônibus, sou abordado.
- Para onde vai, moço?!
- Vou à casa de Seu Silvestre...
Aquele senhor de cabelos prateados nem me deixou terminar:
- Menino, vem cá! Leve esse moço à residência de Silvestre Batista...
O homem Informou o endereço e fui levado por um guri que me servira de pajem até aquele endereço. Um ano depois, de volta à Esperança, eis que desço e o mesmo ritual se repete. Em casa indago de Seu Silvestre quem era aquele parente seu, homem polido no trato com a recepção de quem nem conhecera. Só aí fui informado sobre o abnegado Nelson da Farmácia. A São Pedro era um detalhe naquele cenário. O que ele gostava mesmo era de servir, prestar informação, acolher, comunicar.
Que se cuide da substituição (na placa) do nome de Nelson Andrade de Oliveira. Este é um mero esperancense, ofuscado pela alcunha de Nelson da Farmácia. Se essa rua fosse minha...

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