Ouvi do filósofo uma reflexão que
me fez refleti-la: “Eu estou preocupado! Estou muito preocupado com a onda que
tomou este país. Todo mundo com um discurso ético, cheio de probidade e numa
verdadeira caça aos corruptos. Isso me preocupa! ”.
Refleti sobre o que dissera meu professor. Penso que sua linha de raciocínio poderia caminhar pelos
acostamentos da vida, onde muitos se apressariam em ultrapassar os “tolos” que permanecessem
enfileirados, aguardando hora e vez da locomoção. Talvez sua tese aventasse possíveis
filas de banco, ônibus, cinema, supermercado... onde essa mesma ética não
tivesse espaço. Ou será que o filósofo faz elucubrações imaginando um pai
comprando um aparelho auricular para um filho se dar bem no vestibular, deixando
para trás um monte de gente nem tanto esperta ou, ainda, comprando uma “consulta,
um tratamento médico” num jeitinho de fugir do Imposto de Renda? Uma gorjeta por um documento escuso ou estacionar numa calçada, nem cogitei. Desisti de
assim me guiar por ratificar que seriam teses insustentáveis, afinal vivemos um
Brasil indefectível, uma gente com predicados irrefutáveis de tão proba.
Não encontrei uma alternativa que
me faça elucidar o problema. “Eu estou preocupado! ”, essa frase me corrói o
juízo sem que me chegue algo palatável, uma justa explicação. Há aquela famosa lei
de Gerson “Eu gosto de tirar proveito em
tudo, certo! ”, mas cai por terra posto que não há ninguém, nesses éticos
tempos, que ainda faça uso dessa prática ridícula. Imaginar que jovens
universitários, libertados da caverna platônica pelo conhecimento, tenham
comportamento rude no acesso aos coletivos a eles destinados, acotovelando seus
pares ─ sejam meninos ou meninas ─ para galgarem um assento como se fora o
último de suas existências, é inimaginável, indubitavelmente. Poderia levantar
hipótese sobre aquele papel jogado ao chão, um resto de lanche e pet
descartados pela janela do automóvel importado, o avanço do sinal vermelho,
aquele aperto de mão com as marcas grudadas de meleca e, até, a torneira aberta
e esquecida a esmo.
Teses tão insustentáveis me tiram
o gosto pela investigação. Não me arvoro a decifrar tal pensamento. Meu
professor, certamente, estava brincando ou se referindo a um Brasil dos tempos
da Casa Grande Sem Sala, onde nem mesmo a senzala existiu.
Sobre probidade, anotem: Domingo
teremos o “Domingão do Cunha”, assim, sem aumentativo!