quinta-feira, 26 de junho de 2014

Um desafio ou um sarro?


A Eduardo Bueno e Maitê Proença,
Mesmo que muitos pensem ao contrário:


Eduardo Bueno, o tal Peninha fez emenda pior que o soneto. Com Maitê Proença fez dueto, proferindo impropérios à terrinha: Nordestina tão sua e tão minha, caras amigas e amigos leitores, provocando em nós os dissabores ao tratar o Nordeste como “bosta”.

Bueno prato, Eduardo muito gosta, ele se farta do sabor e dos odores. Se fez horrores foi por causa da vaidade e deu um tiro no pé ao se explicar. A Maitê, por sua vez, quis ajudar no comentário com tamanha falsidade, esculachando nossa nordestinidade, pois leviano chamou a mim e você que se indigna, se inflama quando vê se denegrir nosso modo nordestino. Do que Eduardo trata, trago no intestino, em seu medíocre programa de tevê. Maitê Proença provocou-nos infortúnios, disse que “a ofensa era até justificável”. Se essa “bosta” pra ela é termo afável, talvez possua um belo par de neurônios. Tem um capenga e outro está a ver navios com essa atriz eu vou querer malquerença, pois ela esconde na beleza uma doença: Se isso tem cura já não é do meu critério. Se um seu neurônio funcionar não há mistério, a inteligência está em convalescença.

Eduardo Bueno é um fuleiro, num desafio eu lhe arranco a pele fina, nem careço fazer carnificina, uso a arte como faz um bom oleiro. Faço essa praga ficar sujo igual poleiro; pra Maitê faço um lobby: Minha gente, vá ao teatro, prestigie essa indecente! Com minha pena eu os levo à execração para aprenderem a respeitar essa nação e dar valor ao Nordeste brasileiro.
Confiram: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/06/maite-proenca-e-peninha

domingo, 22 de junho de 2014

Muitos pensam ao contrário sobre jogos pueris

Quero voltar à infância, aos bons tempos de menino. Já o fez Manuel Bandeira e, depois, Jessier Quirino, meus “zói” já tão marejando, minh’alma sorri cantando e o coração se bulindo. Para ser competitivo tinha que ser bom no taco, pegando as bolas de gude que carregava num saco pr'elas deslizar na terra. É perito quem não erra, caindo em cada buraco. Buracos contavam três qu’eram cavados no chão: Cum graveto eu dava um traço pra linha da marcação, quem mais se aproximasse, mesmo que nem festejasse, faria a iniciação.

Jogava a bola e torcia qu'ela entrasse na caçapa e os outros se revezavam, iam cumprindo a etapa. Talvez ela nem caísse, quase desaparecesse, mas não sumia do mapa. Era só medir um palmo, mirando na posição, prender com o polegar e o indicador da mão, afinar a pontaria treinada de noite e dia: na bola dar impulsão. A bolinha ia rolando pra causar satisfação ao atingir um buraco ou quebrando a objeção de um ou outro adversário, por vezes um “salafrário”, dentro da competição. Quem estivesse na vez mediria palmo a palmo, não valia estar nervoso, melhor joga quem tá calmo. “Deus ajuda ao mais afoito, perdoa dez vezes oito”: Tá escrito em algum salmo. Um buraquinho por vez pra chegar a ser papão e “matar” os companheiros (matar, força de expressão). Todo mundo era amigo, hão de concordar comigo, e o jogo a diversão. Papão acertava um, acertava outro também, ia acertando um por vez até não haver ninguém. No jogo não há limite, arrisco até um palpite: Pode jogar mais de cem! O cabra mais desasnado, ficando sozinho e só, era o grande campeão e num pingo dava um nó, fosse no Estado Zunido, num mapa tão descabido do Japão ao Cafundó.

Trace um triângulo na terra com um prego ou um graveto, faça um riscado adiante com carinho e com afeto, chame toda meninada sem gente descriminada: Pobre, rico, branco ou preto! Bote bolas no triângulo, fique em cima do riscado, arremesse com a mão pra tirá-las do traçado. Aquele que mais tirar, pode então comemorar. É o primeiro colocado. Também se ganha o jogo liquidando o adversário, dando um teco em cada um, recebendo o numerário co'as bolas de quem saiu, tomou Doril depois sumiu”: E ganhou o “obituário”. Tem bola de toda cor e tamanho variado. Se joga com qualquer uma, depende do combinado ou convencido no “berro”. Tem até bola de ferro de rolamento quebrado. Lembro a hora do bãe que era de arripunar, toda vez eu me escondia pra mamãe não me achar. Rezava pr'ela esquecer, deixando eu me entreter e ela de procurar. Sem perigo e sem demora mãe logo me encontrava, pronunciava meu nome, chega o coração pulava. Via estrela e o céu zunir – mesmo eu não querendo ir – pela orelha ela levava. Meu pai já tinha chegado e o jantar tava servido, televisão não havia e o programa preferido era brincar de artista em um sonho futurista: Ser xerife ou ser bandido. Era enorme a inocência dessa e tanta geração. Pra nós índio era bandido na pouca compreensão (Com pensar pouco fecundo) que se tinha desse mundo e da civilização.

Torcia por Rin-tin-tin, o índio que se lascasse. Do cinema e do jibi cada um que imitasse seu artista preferido no papel mais pretendido, aí se dava o impasse. Bandido ninguém queria ser em nossas brincadeiras, e pra sair desse impasse, recolhia as baleeiras, encerrava a sessão e guardava a munição: Frutos de carrapateiras. Toda noite se brincava com todo consentimento e a barra-bandeira era um grande divertimento. Quase se varava a noite, um barulho de açoite com a turma em movimento. Vamos lembrar da queimada, baleada, como queira, jogo com bola na mão bem atirada e certeira, sem caminho obstruído, acertando o distraído com pontuação festeira. Dividia-se um retângulo com um risco bem no meio, equipes de cada lado, era um grande recreio. Ao invés de chorar, ria: A bolada até doía, mas ninguém tinha receio.

Já no jogo de pião carecia habilidade pra zunir, rodopiar com toda velocidade, aparado na ponteira. Nessa bela brincadeira, pra jogar não tinha idade. Jogava o bicho no chão, enrolado na ponteira pra acertar outro pião, artefato de madeira. Imaginação e asa: podia ser feito em casa ou comprado em mêi de feira. Tinha que rodopiá-lo, botar na palma da mão, jogar o diacho pra cima, malabares num cordão. Rodopiá-lo na unha, como muita gente sonha: Que bela apresentação. Outro jogo era a pelada de Garrincha e de Pelé que se jogava na rua, ou em um lugar qualquer, onde tudo hoje é asfalto cuja obra é um assalto: E o jogo não dá mais pé. Lembro o jogo de botão, jogado pela calçada, não precisava dinheiro, só chifre e quenga ralada, caixa de “fosco”, goleiro e em qualquer relojoeiro tinha farta botãozada.

Joguei com bola-de-meia, bola-de-gude e pião. De doutor, quem não brincou!? De cabra-cega ou gamão, na calçada eu já joguei: Se perdi, também ganhei, “Cara-e-croa” e botão. Eu cacei de balieira, já fui craque na pelada, brinquei de barra-bandeira, joguei lebre na calçada. Lambuzei de lama um pau, brincava em qualquer quintal ou rua não asfaltada. No morto-vivo eu fui bobo e aprendi ficar esperto. Quebrei panela de barro com um olho semiaberto. Um jeito “malamanhado”, o bastão bem apontado sem a venda atirei certo. Corrida de saco é uma diversão bem prazerosa. Fiz cuscuz feito de areia cum graveto em polvorosa, o cuscuz se desmanchou e a brincadeira acabou: “Nós é pobre, mas nós glosa”. Com uma roda, um arame e um patim de rolimã eu juntei a meninada: Primo, prima, irmão, irmã e a turma toda animada correndo sobre a calçada, nessa brincadeira sã. Pulei de academia, pra outros amarelinha, passei pedra, pulei corda e dancei a carranquinha. Fiz uma estátua ao tocar sem pedido de cessar dessa gente miudinha.

Hoje vou brincar de pega, boca de forno ao luar, vou ouvir um acalanto que é cantiga de ninar. De esconde-esconde também, não há de sobrar ninguém: Quem não vai querer brincar?! Brincar de passar a pedra ou de esconder a pêia, boca de forno e de pega, jogo de bola de meia... Pra quem disso desfrutou, duvido que experimentou a Febem ou a cadeia!

sexta-feira, 20 de junho de 2014

A falta na copa

Ao contrário do que muitos pensam as faltas na copa estão por toda parte. Começa-se com a falta de transparência com os gastos e a falta de tempo para a conclusão das obras de mobilidade urbana em cidades-sede do mundial. Essas faltas vão desde a falta de comida e bebida nos estádios à falta de ingresso pra quem se atrasou, falta de civilidade aos black blocs, falta de ânimo às seleções em via de voltarem pra casa até as faltas no campo de jogo.

E haja falta! Há falta de marcação cerrada aos adversários; falta de marcação de falta; falta de marcação de pênalti; falta de sorte de atacantes, zagueiros e goleiros; há a falta de calma nas finalizações; falta de cordialidade entre companheiros; falta de capricho em cobranças de falta, pênalti ou arremates a gol; há falta de marcação com sprays no lugar devido e, por fim, falta de senso de humor por parte de muitos dos perdedores. Pasmem, só não falta assunto nem gol. Lamentamos, e muito, algumas faltas de celebridades, jogadores de primeiro naipe, como Zlatan Ibrahimović (Suécia); Franck Ribéry (França), Radamel Falcao García (Colômbia). As faltas mais sentidas, no entanto, foram a falta de competência da Espanha e a falta de Cristiano Ronaldo que ficou, talvez, por Trás-os-Montes (Portugal), como sempre, com sua falta de humildade. Os espanhóis se notabilizaram pela falta do futebol campeão do mundo, já no caso de Cristiano a falta, talvez, tenha sido de fé no sincretismo baiano. Talvez, ainda, lhe tenha faltado gel e o espelho de Narciso. Mesmo assim o português deu com os burros n’água. Muitos pensam ao contrário quanto a essas faltas, pois houve sobra nas garras chilena e costarriquenha.

Quanto a nós, brasileiros, sentimos a falta de Hulk e a falta de ímpeto ao grupo no jogo contra o México: Neymar, nem menos. É bom que nos preparemos para enfrentar Camarões: Falta muito pouco!

terça-feira, 17 de junho de 2014

O peso das palavras

Ao contrário do que muitos pensam, Jerimum tem um vocabulário muito próprio onde as palavras tomam um sentido diferente, nem tanto por serem homônimas homófonas, homógrafas ou de outra matiz gramatical qualquer. Às vezes nem precisa tanto, ele as emprega e pronto! Acha que está falando o mais correto idioma português e, mesmo sem habeas-corpus: atropela os vocábulos, mata a língua! Vejamos um exemplar no conto a seguir:

Detestado médico!

“Eu pensei em comprar uma TV modernosa, dessas que vem de fora, deportada dos Estados Zunidos da Oropa. Num precisava ser grande não, bastava ter 60 amulegadas com uma trena paranoica pra sintomizar todos os canalhas de televisão. Me dissero que a moda agora é usar TV a caibro, mas uso TV aberta, tirei a tampa de trás e vi os trânsitos dentro dela. Sube que antigamente as TV era feita de vulva lá, a bichinha esquentava antes de usar.

As coisa involuíram e tudo agora tem controle remorso pra facilitar os comandrios. Agente aperta os pitoco e muda a sintomia, o audo e o coloramento. Dizem até que os raio que vem dos ares pra gente capitular as image são raios católicos e vem das religião do espaço. Cá na religião Nordeste eu num sintomizo nenhum canalha, eles são originaldo lá no sul. Aí entra tudo em rede national. Por isso mermo apitei pela marca National, com tê do estrangero.

Quando fui instralar a trena trepei no telhado e caí do banco. Fiquei esquartejado e de quarentena por uns dez dias. Fui socorrigido pro hospital das cínicas e lá não tinha médico de adúltero, então fiz uma fixa pro médico de platão, um pederasta. Ele ingeriu que eu fizesse um haxixe e depois constatou uma detenção no meu pé esquerdo. Mas meus cômodo num era sopé, detenção no dedo mendigo. Doía também na calúnia vertebral, doía quando fazia a suspiração.

Pensei que fosse fazer um caceterismo, mas fui subversivo a uma pequena cirurgia. Hoje tomei uma injeção venéria e um comprimido antibiótimo. Indivíduo as dor o pederasta afastou a hipófise de um diadema pulmonar, disse até que saúde em mim abunda”.

Muitos pensam ao contrário! Agora Jerimum está em casa: detestado médico!

Caríssima amiga Clara,

Poderia me dirigir a uma centena de amigos meus, todos com espírito de brasilidade mas, ao contrário do que muitos pensam, dirijo-me a você, mesmo criança, por tantas afinidades que temos no olhar conjuntural e, ainda, pelo fato de saber do seu espírito cível e não servil. Torço pelo Brasil e por nós brasileiros, torço pela seleção, quero o hexacampeonato mundial. Almejo muito mais! Quero que nos reconheçamos como gente grande, grande nação, sem a pecha de uma pátria inferior, onde o que há de bom só existe além de nossas fronteiras.

Bateu-me um banzo nesta terça-feira de copa - onde nada mais no mundo existe senão as 32 seleções representando seus respectivos países - até que me deparo com um comentário de Aliefka Bijlsma, uma escritora holandesa de Curaçao, circulando hoje pelo Face, embora publicado no http://radiobrasilmpb.blogspot.com.br, em 1 de junho de 2010, onde exalta vários pontos positivos brasileiros fazendo um contraponto com países do chamado primeiro mundo. O post é da jornalista Cibele Riccomini, correspondente internacional, na Inglaterra. Tudo bem que vivemos um clima de copa do mundo, mas a vida corre em volta e a existência não se dá apenas em torno do evento da FIFA. Aliás, o evento que a FIFA se apoderou, apoderando-se também do nosso tatu-bola, transformando-o em um FULECO! Mas isso é outra história sem implicações no cerne da questão que pretendo abordar. Incomoda-me, de há muito, o modo como o Brasil é visto pelos brasileiros, ratificado e elucidado na opinião da holandesa.   

Uma coisa, no entanto, me incomoda naquele texto. É que ele tem duas laudas e é remota a possibilidade de que uma centena desses meus amigos se encoraje à leitura:

Muitos pensam ao contrário: olha eu aí com meu pessimismo!

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Mentiras em tempos de copa

Seu Flaviano com suas proezas, mais uma vez, está em pauta. Dessa vez é lembrado pelo fato de estarmos desfrutando tempos de copa do mundo. Ao contrário do que muitos pensam, seu Flaviano tem muito a ver com esses assuntos futebolísticos, verão vocês.

Em tempos de copa do mundo poucos assuntos são tão palpitantes quanto o futebol. E mesmo na nossa infância, quando as transmissões se davam pelas ondas do rádio, eles eram tão recorrentes quanto agora com a parafernália do terceiro Milênio. Conhecíamos os alemães pela TV ainda incipiente, através do “Combate”, seriado que os mostravam terríveis sanguinários. Então a meninada se juntava em torno da espreguiçadeira do mentiroso – com todo respeito! – para ouvir suas fabulosas mentiras. O assunto daquele dia era a copa de 66 e lá estavam os alemães (quase papafigos), possíveis adversários do Brasil: “Pelé e Garrincha tavam lascados”, comentava o velho Flaviano, homem vivido nas batalhas de além-mar, conhecedor da “perversidade” alemã. Pelo que víamos no seriado, não seria um jogo de futebol, mas uma batalha! “A seleção brasileira bem que poderia ter levado o zagueiro Tará, ex-Santa Cruz. Vocês não vão acreditar, Tará jogava com uma Gillette enfiada nas chuteiras. Não ia ter alemão que chegasse à área brasileira”, afirmava Seu Flaviano.

Muitos pensam ao contrário: Os alemães não eram o que pintávamos; Tará nunca foi zagueiro e, na copa de 66, já estava há muito aposentado. Quanto à Gillette enfiada nas chuteiras, seu Flaviano tinha provas cabais, mas o sujeito que lhe havia feito tal confidência, infelizmente, não estava mais entre nós. Tínhamos que confiar em suas palavras. E quem de nós duvidaria!?

O hino que entrava

Ao contrário do que muitos pensam, depois da quebradeira com civilidade mascarada ou a falta dela, em nome de protestos justos, entra em campo a arte e a ciência. Fomos brindados com a inventividade artística tão peculiar à nossa riquíssima cultura. Isso não bastasse entra em capo a ciência com um belo pontapé e um pulo contra a tetra e a paraplegia.
Então é hora da seleção também entrar em campo e trazer de volta o encantamento do futebol com a pátria de chuteiras – como diria Nelson Rodrigues  − entonando o Hino Nacional Brasileiro. E aquela regra de que se toca e se canta apenas parte de um hino, mais uma vez foi pro espaço, pois se o hino é nosso cantemo-lo por inteiro e daquele jeitinho que entrava a garganta da maioria de nós brasileiros. E viva a democracia conquistada pra se fazer festa. Ao meu lado, e em minha casa, um brasileiro com camisa da seleção argentina vibrou e tirou "sarro" com o gol da Croácia, tendo o nosso respeito, pré-requisito para a civilidade e a democracia que defendemos, mesmo em momentos controversos, discutíveis como o que vivenciamos.
Muitos pensam ao contrário e eu, confesso, sou arredio à frase “Ordem e Progresso” em nosso pavilhão nacional, símbolo do iluminismo de Augusto Comte, mas o que conta mesmo é a emoção e o sentimento de brasilidade que o período repressivo quis roubar de nós. Melhor que não houvesse um mundo com fronteiras, uma grande pátria como sonhou Bolívar! Também sonho, por exemplo, com um mundo sem os contrassensos entre Etiópia e Canadá!
Quanto ao pênalti (voltando ao jogo do Brasil e Croácia) não fujo à regra e o acho também discutível. Mas não tanto quanto os gols da Inglaterra contra Alemanha (bola na trave, em 66); da Inglaterra contra Alemanha (bola que entrou sem marcação do gol, em 2010); o de Maradona (em semi-final de copa do mundo, em 86), também contra a Inglaterra: "A mão de Deus".

quarta-feira, 11 de junho de 2014

É importante que se saiba!

É do grande Jésus Rocha "O humorista do fim do século" como ele mesmo se define, que tomo emprestado − como bem lembrou o amigo/irmão Evaldo Brasil − a frase “Ao contrário do que muitos pensam, muitos pensam ao contrário”, um achado dos fins da década de 70, nos meus tempos de DIÁRIO DE PERNAMBUCO.

Depois do lançamento do seu livro "Noções Unidas" nunca mais tive notícias suas. Livro, aliás, que recomendo pelos textos cuja fonte são o Brasil, o humor e a vida. “O humorista não tem que criar muito, e sim perceber, arrumar a realidade. De repente, o que parecia sério se torna o que realmente é: uma piada”. Esta é das últimas tiradas que pincei de Jésus Rocha, jornalista, humorista e cartunista de quem sou fã de carteirinha.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Belas mentiras

Seu Flaviano era um senhor de seus sessenta e poucos anos a quem rendíamos o respeito que a idade e os bons costumes recomendam. Homem vivido, herói de guerras, lutas travadas em trincheiras de além-mar. Assim o conhecíamos e admirávamos. Aquele negro alto, fisionomia fechada se apresentava sempre sem camisas, usando calças arregaçadas e dobradas no cós, um barrigão e a careca debaixo de um chapéu surrado, formavam o perfil daquele tipo.

Bastava o sol descer por trás dos coqueirais de Tejipió, nos arredores de Recife, e a turma se achegava no terreiro da sua casa. Lá estava seu Flaviano em sua espreguiçadeira, cachimbo fumegante, fumaça em espiral, deitando falação. Um por um prestamos atenção em todos os detalhes daquelas conversas. Só era interrompido quando dona Severina, sua mãe – já muito velha, cega, filha de escravos −, o advertia sobre os exageros. Nada havia de verdade, mas belas mentiras nos ditos de seu Flaviano. E quando ele notava um olhar duvidoso nos presentes, levantava, se desfazia do cachimbo e advertia: “Tão pensando que é mentira?”, e sentenciava: “Sumam, nunca mais me apareçam!”.

Ao contrário do que muitos pensam, éramos todos crianças, todavia sabíamos que nada havia de verdade naquilo que ele nos contava, recontava e reinventava. Eram pérolas saídas daquela boca entortada pelo velho cachimbo guardado – bem me lembro – nas frestas das paredes nuas daquela casinha simples que o abrigava. Muitos pensam ao contrário, seu Flaviano não disfarçava tão bem quanto mentia!