―
Penso, logo existo!
―
Já ouvi essa frase. É do Sócrates, não é?
―
Não. A frase não é do Sócrates. É de um outro filósofo. Por que a pergunta?
―
Admiro a inteligência e a obra de Sócrates.
―
Sócrates não nos deixou nenhuma obra! O que se sabe, se sabe através de outros
filósofos.
―
Oxente! E o calcanhar? Foi o calcanhar que o tornou famoso.
―
Ah, você deve estar se referindo a Achiles. Isto aí já é assunto sobre os
mitos. Mitologia grega.
―
Bom, para mim ele também é um mito.
―
Peraí, vamos colocar ordem na conversa: de qual Sócrates, afinal, você está
falando?
―
Estou falando de Sócrates, o idealizador da Democracia Corinthiana!
―
Bem, agora que tudo está claro como a luz do sol, posso explicar sobre o
“Penso, logo existo!”
―
Então explique. Porque eu existo e quero entender. Quem disse isso?
―
Foi René Descartes (Dêkart)...
―
Descarto não. Agora eu insisto em saber.
―
Eu disse Descartes. Filósofo, físico e matemático francês...
―
Um filósofo, físico, matemático e disse só isso, uma coisinha de nada!?
―
Permita-me discorrer sobre o seu pensamento...
―
Agora deu! Discorrer sobre o meu pensamento!?
― Não. Sobre o pensamento do
filósofo Descartes. Ouça e medite a respeito:
Penso, logo existo! "Considerando que os pensamentos que temos quando
acordados nos podem ocorrer também quando dormimos, sem que neste caso nenhum
seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que até então encontrara acolhimento
no meu espírito não era mais verdadeiro que as ilusões dos meus sonhos. Mas,
logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso,
eu, que assim o pensava, necessariamente era alguma coisa.
E notando esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme
e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam
impotentes para a abalar, julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para
primeiro princípio da filosofia que procurava".
― Então isso é Descartes?
― Descartes, sim. De ponta à cabeça!
― Então isso é Descartes?
― Descartes, sim. De ponta à cabeça!
"Agora imagina a maneira como
segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância.
Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada
aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço
acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante
deles, pois as correntes os impedem de voltar à cabeça; a luz chega-lhes de uma
fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os
prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada
está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores
de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas".
― E de quem é essa voz?
― Essa é
a voz de Sócrates!
―
Oxente! E ele tá vivo? Que voz! Parece até William Bonner!
―
Sócrates não morrerá jamais!
―
Mas precisava vir desse jeito, sem avisar...
―
Você não gostou das verdades de Sócrates?
― A verdade é que se eu
soubesse tinha vindo com frauda descartável!
― Vamos sair para além da
Caverna. Vamos voltar ao tempo e investigar as causas que contribuíram para o
Golpe Militar de 64, no Brasil.
― Danosse! Se essa cabra fosse
candidato eu votava nele. Fala bonito demais!
― Vamos ouvir para compreender!
O Golpe é mais embaixo - Há, sem dúvida, uma série de episódios marcantes na
vida política brasileira que dão margem e sustentação à existência do Golpe
Militar de 64. Essa triste página da nossa história é impressa em 25 de agosto
de 1961, após sete meses do governo Jânio Quadros. Mas os rascunhos sórdidos
veem da ganância imperialista norte americana. Eduardo Galeano nos revela toda
essa sordidez em As Veias Abertas da América Latina, à página
108, no capítulo DENTES DE FERRO SOBRE O BRASIL.
―
Pra você o que será que ocasionou o Golpe?
― E
eu sei. Eu num tava lá para saber! E mesmo se tivesse: qué qu’eu tenho com isso?
― A
Caverna está entranhada em você! Há um componente pouco sabido sobre o
Golpe.
―
Então desembuche. Se sabe, diga!
―
Você ouviu bem? Jânio Quadros aproximou-se dos países socialistas...
―
Sim, e daí?
―
Daí que ia vender matérias-primas de valor estratégico para países comunistas.
―
Então tinha que haver o Golpe, mesmo! Êita raça de comuna desgraçada!
―
Sem contar com o fato de haver condecorado Che Guevara, líder da Revolução
Cubana. O que aumentou a pressão e a renúncia de Jânio.
― E
o que ele disse sobre essa renúncia?
―
“Forças terríveis levantaram-se contra mim”.
― Só
isso?
―
Mais tarde, respondendo à imprensa, ele disse: “Fí-lo porque qui-lo!”
―
Êita! Uma merda dessa não deu só um quilo: isso deu quilo e meio!
―
Forças ocultas e terríveis levantaram-se contra mim! Foi a grande explicação de
Jânio.
―
Bom! Ele saiu. E quem ficou no lugar dele?
―
Boa pergunta. Como já ouvimos, Jango estava no exterior, na China.
―
Ouvimos.
― E
que os militares não queriam que ele tomasse posse.
― Ouvimos
também
― E
você sabe que os militares ameaçaram derrubar o avião presidencial caso Jango
desembarcasse em Brasília, para tomar posse?
― Mas por que os militares não
gostavam de Jango?
― Jango tinha ligações com os partidos de esquerda, principalmente com o extinto Partido Comunista...
― Jango tinha ligações com os partidos de esquerda, principalmente com o extinto Partido Comunista...
― E
Jango voltou, mesmo com essa ameaça?
―
Voltou, sim!
― E
a promessa dos militares?
―
Oxe! Brizola fez um levante lá no Rio Grande do Sul em solidariedade a Jango...
― E
o que Brizola tinha a ver com isso?
―
Brizola era cunhado do vice-presidente João Goulart.
―
Agora dá pra entender! E como foi esse levante?
―
Brizola criou a “Rede da Legalidade”. Sabe o que ele queria com isso?
―
Cabra danado. Balançou rede da legalidade e quis derrubar a rede Globo! O que
Brizola queria?
―
Ele queria o cumprimento da Constituição para garantir a posse de jango,
certo!?
―
Certo.
―
Para tanto Brizola colocou o terceiro exército de prontidão e armou a
população...
― E
precisava disso?
― É
que os militares ameaçaram bombardear o Palácio Piratini, sede do governo, em
Porto Alegre.
― E
Jango! Conseguiu pousar em Brasília?
― O
movimento pela “Legalidade” surtiu efeito. Jango tomou posse.
―
Mas o presidente da Câmara Federal... Como é mesmo o nome dele?
―
Raniere Mazzilli.
―
Sim. Ele já não tinha tomado posse na presidência da República?
―
Tinha. Mas Jango ocupou a presidência e o Raniere Mazzilli deixou o cargo que
havia ocupado, ferindo os preceitos da Constituição Brasileira.
―
Ufa! Ainda bem que tudo acabou em paz...
― Aquele não era tempo de paz.
Você ainda vai saber sobre os horrores do Golpe. Como já vimos havia muito
interesse por trás do Golpe.
―
Você e essa mania de perseguição imperialista, né! Os militares estavam a
serviço da Pátria!
― A
Guerra-fria e os interesses econômicos de Washington justificavam as
atrocidades cometidas contra a soberania de países da América Latina.
― E
o que o Brasil tinha a ver com isso. Se era América Latina, deixasse a América
se lascar!
―
Você ainda vai entender a história.
―
Mas conte sem tomar partido. Seja imparcial.
―
Diante do impasse da renúncia de Jânio e a posse de Jango, o Congresso Nacional
resolveu instaurar o sistema Parlamentarista...
― Tô
começando a entender. É verdade que os militares aceitaram a posse desse tal de
Jango!?
― É
verdade, sim.
― Tá
vendo! Você fica com caraminholas contra os militares e eles deram posse ao
cara.
― É, mas deram posse no sistema
Parlamentarista.
―
Mas
ele continuou presidente. O que você queria mais, amigo?
―
Entenda. Jango continuou presidente, mas seu poder ficou limitado.
―
Limitado! Feito crédito de celular. Quando a gente pensa que tem, acabou?
― O
poder político era do primeiro ministro: Tancredo Neves! Era esse o nome.
―
Acho que já ouvi falar? Tancrêeeee... Ele foi ministro de Sarney, num foi!?
―
Tancredo era um político conciliador, do PSD (Partido Social Democrata)
mineiro.
―
Huuuum! Tô entendendo.
― Na
redemocratização foi eleito presidente por um Colégio Eleitoral.
―
Colégio? Foi eleito representante de classe, então! E eu nem sabia.
―
Assim você não sai da Caverna! Vamos voltar ao assunto!?
―
Taí, se o homem era conciliador, é sinal que tava tudo bem. Pra quê mexer
mais!?
― A
Constituição havia sido estuprada e Jango, em janeiro de 63, fez uma Consulta
Popular...
―
Pra quê? O que ele queria? Deixasse tudo quieto, né!
―
Consulta para que o povo se decidisse pela continuidade ou não do
Parlamentarismo.
― E
qual foi a decisão do povo? Eita povinho pra gostar de votação!
―
Com 82% dos votos o povo escolheu voltar ao Presidencialismo.
―
Pronto! Esse tal de Jango conseguiu o que queria. Foi tudo resolvido. Muda de
assunto!
―
Vamos! Eu tenho uma proposta!
― E
qual é a proposta?
―
Vamos refletir sobre esse nosso diálogo.
― E
isso aqui é um diálogo?
―
Claro que sim. Hoje é dia de relembrar aquele período obscuro da nossa história?
― É..., bom..., quer dizer...,
sei lá...
― E para que nunca mais se repita!