terça-feira, 31 de março de 2015

Estórias que mamãe contava

Taí o nosso Camonge!
Sabem aquela síndrome pueril? Não cessa nem com reza forte! Agora mesmo me pego “ouvindo” as histórias que mamãe contava. Melhor ainda com aquele cenário de invernia, água caindo da biqueira, plantação verdejante, cheiro de terra molhada. Dos trovões nem quero lembrar! Eram tenebrosos, trazidos por aqueles raios que cortavam os céus e clareavam o mundo. “Aquilo era São Pedro com seus burrinhos carregando água em botijões céu acima, céu abaixo”, ela nos confortava certamente para abrandar o medo. E nem dava para duvidar, era mamãe quem nos contava, tinha toda a sabedoria possível. Impossível era "duvidar", palavra ainda não existente em nosso vocabulário.
Naquele universo os contos brotavam de todos lados, vindos de além mar - Hans Christian Andersen com seus contos dinamarqueses - ou das bandas de cá debulhando as estórias de Monteiro Lobato ou contemplando os cordéis de autores nordestinos, a exemplo de Leandro Gomes de Barros, Manoel Camilo, João Martins de Ataíde e outros. Também de além mar ela debulhava um conto cordelístico referendando Camões, maior poeta português de todos os tempos, chegando até nós na figura popularesca de Camonge. Pois bem, além dos célebres contos brasileiros a exemplo das Proezas de João Grilo e Pedro Malazarte éramos apresentados às Trinta perguntas do Rei e as repostas de Camões: Leitor, se você ouvir / Esta pequena proposta / Da descrição de Camões, / Acha interessante e gosta / Constatando o que ele fez / Sorrir de cair de costa. / Camões foi um enjeitado / Ninguém sabe onde nasceu / Dizem que foi encontrado / Na porta de um fariseu  / Num dia santificado  / Do santo Bartolomeu.
Após esse introito mamãe dava conta do conto que se segue com riqueza de rima e métrica de Severino Gonçalves de Oliveira, seu criador: Camões disse:- Senhor rei / As suas ordens estou / Pergunte com rapidez / Que alguém ali me chamou / O rei disse: - então escute / E pra ele assim falou:
Camões você me responda / E aqui perante o povo / Este problema que eu trago / É antigo e não é novo / Não se quebra com marreta / Mas se quebra com um ovo?
Camões disse: - Senhor rei / Esta pra mim é comum / Durante o ano têm muitos / Mas eu nunca guardei um / Digo com toda certeza / Que é um dia de jejum.

2 comentários :

  1. Depois desse e doutros aqui lido, fico feito o jumento que Camonge botou pra rir a pedido do dono: de beiço extraído.

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