sexta-feira, 13 de março de 2015

Naquela mesa 'tá faltando ela!

Hoje, coincidentemente, a irmã Mariângela, minha filha,
estará renovando seus votos: Tudo que Vó Rita sonhara
Vó Rita! Era como eu e meus filhos a tratavam. Os vínculos foram criados a partir de uma amizade que transcendia a própria amizade, ia mais além. Em sua casa éramos da casa, da família, tratados como se filhos fôssemos. Faz 29 anos que a conheço, mais que um quarto de século de convivência e, sobretudo, aprendizado. A sabedoria na simplicidade dessa mulher sempre me chamara a atenção. Nem precisou de “graduação” para saber o que sabia e viver como viveu, ensinando através de atos e gestos tão simples quanto magnânimos. Aquela mulher sábia não via o outro como o outro, contemplava-o como um seu semelhante.
Então nós fomos premiados em estarmos na constância dessa convivência, adotados que fomos e adotando-a como a adotamos. Hoje – devo me acostumar com o agora real – não ouvirei mais sua voz nos convidando a tomar sopa. Aquela sua sopa não era apenas uma sopa, tinha ingredientes que à culinária não foi dada a fórmula. Pitadas de carinho acompanhavam-na em doses certas a cada um que sentassem à mesa sempre farta e saborosa. A cozinha, não fugindo a uma regra nordestina, era o ponto de referência nos encontros. Lá estava ela servindo-nos um a um.
Em tempos de universidade, principalmente, desperto com o vibrato de um aparelho celular que substitui o antigo relógio despertador. Cinco horas é o estabelecido para aquele chamado ou lembrete. Levanto, faço minha toalete, tomo água, como algo, caminho, viajo rumo à Filosofia-UEPB. Uma e quê da madrugada percebo meu aparelho celular com a bateria descarregada. Não me abalo e o deixo sobre a mesa de leituras. Tomo banho, deito, durmo. Acordo com Parícia, minha esposa, me alertando para o toque despertador. Procuro o aparelho sob o travesseiro, como de costume e, mesmo ouvindo aquele toque, lembro da bateria descarregada e que o deixara sobre a mesa. Levantei-me e conferi: o aparelho estava lá, distante. Vejo o relógio na parede marcando três e quarenta e cinco. Volto à cama e informo: "Foi Vó Rita. Vamos aguardar a notícia".
Rita Rocha encontrara-se internada, a uma semana, num hospital de Campina Grande. Seis horas, pouco depois daquele toque de despertar, veio a notícia que ela partira.

Um comentário :

  1. Nossa! gostei muito, até arrepiei, senti na pele a estória da Vó Rita Rocha, pois perdi minha mãezinha faz
    pouco tempo.

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