sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Uma mão estendida III

Encontrava-me na Pracinha do Diário, denominação oficiosa da Praça da Independência, em meio a um grupo de ex-colegas de trabalho, quando fui abordado por um desconhecido. Fiquei a me perguntar – ao tempo que o atendia – o por quê de ser eu o escolhido em meio ao grupo. Afastei-me um pouco dos colegas para ouvir mais atentamente o pleito que me fizera. Soube, então, que se tratava de alguém oriundo de Lagoa de Itaenga, nas proximidades da cidade de Carpina, região canavieira pernambucana.
Estava desempregado, havia uma semana que procurara emprego em Recife, sentia-se faminto, queria voltar para casa, não tinha dinheiro. Esta foi a situação pormenorizada daquele cidadão, trabalhador que me pedia ajuda. Despedi-me do grupo e, meio desconfiado, o convidei a caminhar em direção à Duque de Caxias com destino ao Cais de Santa Rita, onde minha esposa, gestante à época, me aguardava. Lá cheguei e o apresentei como amigo, mas sem dizer que o levara conosco. Tomamos o ônibus, descemos em Piedade e o rapaz nos acompanhando. Até que chegamos ao apartamento e, só aí, contei a historia. Conosco moravam meu irmão Fernando e minha cunhada Mirtes. Ficaram todos sobressaltados quando informei que iria a uma reunião de condomínio e me demoraria por lá.
Ao moço foi servida comida, roupa e um colchonete para dormida. Na manhã seguinte o levei à rodoviária e o vi embarcar de volta para Lagoa de Itaenga. Uns dez anos mais tarde, num vagão do metrô de Recife, sinto alguém me tocar às costas e olho para me certificar de quem se tratara, sem reconhecer.
- Tá lembrado de mim?
- Desculpe-me, mas não lembro.
- Sou aquele rapaz de Lagoa de Itaenga...
Aí me apresentou à família, narrando o ocorrido em nosso encontro, expressando enorme gratidão.

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