sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Pânico no cinema I

Fui ao lançamento do filme Terremoto, no extinto Cine Moderno, localizado à Praça Joaquim Nabuco. O cinema teve que fazer algumas adaptações para suportar o som especial daquela exibição. Empolgado com a novidade sentei-me na primeira fila, queria sentir de perto a emoção tão propalada nos meios de comunicação. Eu era, dentre milhares de recifenses, um felizardo pela cortesia recebida. Estava, de fato, naquela avant première.
Enfim é chegado o momento, apagam-se as luzes, abrem-se as cortinas. O Canal 100 era, por assim dizer, o prato de entrada nas sessões cinematográficas brasis afora. Bons tempos aqueles quando ainda haviam os cinemas com seu público, pipoqueiros, sorveteiros, trocas de gibis e fantasias, a fábrica de sonho das películas. Inicia-se o filme, ratifico de cara o som especial tão anunciado. Tremia tudo! Paredes, piso, cadeiras... Eu tremia por dentro com as cenas que lembravam um episódio ainda muito recente na capital pernambucana. Um boato criminoso, espalhado por uma emissora de rádio local, paralisou o comércio de Recife com o “rompimento” da barragem de Tapacurá. Lojas fechavam suas portas, funcionários e clientes abandonavam seu interiores, ônibus desembarcavam passageiros enquanto outros tantos neles embarcavam, pessoas se encontravam como formigas e, numa curta conversação, rápido se dispersavam. O pânico tomara conta da cidade.
Naquela sessão o som e a tremedeira aumentaram na cena do rompimento de uma barragem. Aquilo deixou de ser uma película, o filme que passava em minha mente era real. Lembrei da cena que vira do terceiro andar do prédio do Diário de Pernambuco, naquele dia de pânico. Saí cambaleando em meio aos cinéfilos que lotavam o Moderno. O pânico estava ali: Tapacurá, para mim, estava se rompendo!

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