Na enchente de 1966, com o Tejipió inundando boa parte
dos arredores de Recife, tivemos que reconstruir nossa morada. O barraco de
madeira dava lugar a uma casa de alvenaria à beira daquele riacho, o Tejipió. Feito
o alicerce, levantamos os cômodos que nos abrigariam e, daí por diante,
tocaríamos o resto da obra dentro das possibilidades do meu pai, funcionário
público da Rede Ferroviária. Então enfileiramos os tijolos, num espaço lateral
da casa, aguardando a continuação da alvenaria. Eram tempos difíceis, onde tudo
era medido e pesado para que o orçamento cobrisse o mês. Não se tinha as
facilidades de hoje com a variedade de material, condições de compra a crédito,
mão-de-obra...
É aí que entra nosso personagem, o Sebastião Leso.
Notávamos, a cada manhã, pedacinhos de
tijolos juntados em um canto do muro, de forma a denunciar a quebradeira e o
cuidado com a não dispersão dos cacos. Naquela manhã do alarido, meu pai o pôs pra correr, ainda muito
cedo, flagrando o malfeito e seu benfeitor: Era Sebastião, sem nenhum contrassenso.
Ao contrário do que muitos pensam não era por mal que ele quebrara os tijolos.
Interrogado no almoço, por minha mãe, confessou:
- Dona Carminha, só queria ajudar seu Soarinho. Eu tava fazendo
muito!
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