quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O passado é um presente

Há quem não saiba lidar com a idade, muito menos quando esta se torna um peso em nossas vidas. Em meu caso, sabem os mais próximos, não há peso, mas um gozo por tudo que ela me traz. O tempo passa e nós, irremediavelmente, envelhecemos como tudo na natureza. Os movimentos não contam mais com a agilidade de outrora, o raciocínio funciona com um certo “delay”, comparável àquele atraso nas transmissões televisivas, onde o repórter não ouve instantaneamente a chamada dos âncoras, coisa corriqueira, hoje em dia. É fato, portanto, que a pele enruga, as articulações não respondem aos comandos cerebrais e tantos outros sinais de envelhecimento se dão ao longo do tempo. Sabe-se – e isso é terrível para muitos – que a morte se inicia quando nascemos.
Pois bem, estou neste processo natural, mas o encaro de modo a aproveitar as vantagens de tudo isso. E são tantas as vantagens. Busco no passado um presente com significado de dádiva. O passado é, na verdade, um presente que se foi; o futuro é um presente ainda por se dar; o presente, por este prisma, é um passado que está se dando. Por isso mesmo percorro por minhas reminiscências e as fico ruminando, revivendo na memória tudo que vivenciei. Sinto até os aromas daqueles momentos: num banho de riacho sinto a frieza do mergulho, o cheiro das algas e da água; se banho de praia, bebo água salgada e sinto a maresia, a brisa suave marinha...
Aos trinta e um dias deste mês de janeiro de dois mil e quinze – anotem os amigos – cometo meus 60 anos de vida. Ao contrário do que muitos pensam, sinto-me como se trinta tivesse. O peso da idade não me acomete, afora um joelho com trauma que insiste em passar dos cem. Sem traumas psicológicos o ignoro e vou “tocando em frente”, como bem disse o poeta. O passado, para mim, é um presente.

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