Há quem não saiba lidar com a idade, muito menos quando esta
se torna um peso em nossas vidas. Em meu caso, sabem os mais próximos, não há
peso, mas um gozo por tudo que ela me traz. O tempo passa e nós,
irremediavelmente, envelhecemos como tudo na natureza. Os movimentos não contam
mais com a agilidade de outrora, o raciocínio funciona com um certo “delay”, comparável
àquele atraso nas transmissões televisivas, onde o repórter não ouve
instantaneamente a chamada dos âncoras, coisa corriqueira, hoje em dia. É fato,
portanto, que a pele enruga, as articulações não respondem aos comandos
cerebrais e tantos outros sinais de envelhecimento se dão ao longo do tempo.
Sabe-se – e isso é terrível para muitos – que a morte se inicia quando
nascemos.
Pois bem, estou neste processo natural, mas o encaro de modo
a aproveitar as vantagens de tudo isso. E são tantas as vantagens. Busco no
passado um presente com significado de dádiva. O passado é, na verdade, um
presente que se foi; o futuro é um presente ainda por se dar; o presente, por
este prisma, é um passado que está se dando. Por isso mesmo percorro por minhas
reminiscências e as fico ruminando, revivendo na memória tudo que vivenciei.
Sinto até os aromas daqueles momentos: num banho de riacho sinto a frieza do
mergulho, o cheiro das algas e da água; se banho de praia, bebo água salgada e
sinto a maresia, a brisa suave marinha...
Aos trinta e um dias deste mês de janeiro de dois mil e
quinze – anotem os amigos – cometo meus 60 anos de vida. Ao contrário do que
muitos pensam, sinto-me como se trinta tivesse. O peso da idade não me acomete,
afora um joelho com trauma que insiste em passar dos cem. Sem traumas
psicológicos o ignoro e vou “tocando em frente”, como bem disse o poeta. O passado,
para mim, é um presente.
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