Já fora atendido, aguardava apenas a entrega da encomenda. Sentei-me,
então, à mesa. A curta conversa com dona Robéria Belarmino, proprietária
daquele estabelecimento, fora interrompida com uma breve observação de Heloísa
Duarte, sua irmã. Muito sorridente ela interage com alguma funcionária, passando
bem à minha frente: “Esbelte! Assim como Carlos. Não é, Carlos?”, ao que respondo
afirmativamente com a cabeça. Heloísa fizera referência ao seu corpo habituado às
caminhadas e malhações. Eu, como não tenho trauma em revelar minha idade, reafirmo
sua referência e dou-lhe uma informação que ratifica aquele seu comentário
elogioso:
- Você tem razão, Heloísa. Amanhã “intero” sessenta!
Percebo, então, que chamara a atenção de Robéria a me perguntar:
- Quem faz sessenta anos amanhã, Carlos?
- Eu, Robéria. Sessenta anos amanhã, dia trinta e um!
Houve mais um comentário de ambas e retomamos nossos afazeres.
Uma conversa puxa outra. Robéria e Heloísa são filhas de Jurandi Jesuíno
de Lima - Didi de Lita, numa referência a um dos mais importantes empresários
esperancenses, José Jesuíno de Lima - Lita. É da nossa cultura fazer referência
a alguém, algum lugar ou mesmo a alguma coisa quando se quer nominar outrem. Daí
surgirem João de Patrício, Jaime de Pedão, Severino Tatá, Dedé da Mulatinha, Zé da Véia... São
peculiaridades culturais bem nossas.
Mais, como dissera, uma conversa puxa outra. Voltemos a Didi de Lita.
Todos sabemos da sua vocação empresarial herdada do pai. Corre também, a boca
miúda, que entre o comércio e uma boa conversa, esta suplantaria àquele. A
conversa ao pé de parede, isolada ou em grupo, como se dera durante décadas,
era a alma daquele negócio. Certa vez eu brinquei, em programa radiofônico, que
Didi havia feito balanço em seu comércio naquele final de ano. Tudo estava como
há muito tempo: Receita e Despesa; Entrada, Saída e Estoque. Ao contrário do
que muitos pensam, o comércio era apenas um detalhe para Didi, como bon vivant que era. Diz Vicente Simão que Didi estando
em meio a uma conversa acalorada e vislumbrando a abordagem de um possível
cliente na Comercial Santa Terezinha, mesmo sem imaginar a mercadoria procurada,
já se antecipava e sinalizava ao longe:
- Tem não!
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