sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Uma conversa puxa outra

Já fora atendido, aguardava apenas a entrega da encomenda. Sentei-me, então, à mesa. A curta conversa com dona Robéria Belarmino, proprietária daquele estabelecimento, fora interrompida com uma breve observação de Heloísa Duarte, sua irmã. Muito sorridente ela interage com alguma funcionária, passando bem à minha frente: “Esbelte! Assim como Carlos. Não é, Carlos?”, ao que respondo afirmativamente com a cabeça. Heloísa fizera referência ao seu corpo habituado às caminhadas e malhações. Eu, como não tenho trauma em revelar minha idade, reafirmo sua referência e dou-lhe uma informação que ratifica aquele seu comentário elogioso:
- Você tem razão, Heloísa. Amanhã “intero” sessenta!
Percebo, então, que chamara a atenção de Robéria a me perguntar:
- Quem faz sessenta anos amanhã, Carlos?
- Eu, Robéria. Sessenta anos amanhã, dia trinta e um!
Houve mais um comentário de ambas e retomamos nossos afazeres.
Uma conversa puxa outra. Robéria e Heloísa são filhas de Jurandi Jesuíno de Lima - Didi de Lita, numa referência a um dos mais importantes empresários esperancenses, José Jesuíno de Lima - Lita. É da nossa cultura fazer referência a alguém, algum lugar ou mesmo a alguma coisa quando se quer nominar outrem. Daí surgirem João de Patrício, Jaime de Pedão, Severino Tatá, Dedé da Mulatinha, Zé da Véia... São peculiaridades culturais bem nossas.
Mais, como dissera, uma conversa puxa outra. Voltemos a Didi de Lita. Todos sabemos da sua vocação empresarial herdada do pai. Corre também, a boca miúda, que entre o comércio e uma boa conversa, esta suplantaria àquele. A conversa ao pé de parede, isolada ou em grupo, como se dera durante décadas, era a alma daquele negócio. Certa vez eu brinquei, em programa radiofônico, que Didi havia feito balanço em seu comércio naquele final de ano. Tudo estava como há muito tempo: Receita e Despesa; Entrada, Saída e Estoque. Ao contrário do que muitos pensam, o comércio era apenas um detalhe para Didi, como bon vivant que era. Diz Vicente Simão que Didi estando em meio a uma conversa acalorada e vislumbrando a abordagem de um possível cliente na Comercial Santa Terezinha, mesmo sem imaginar a mercadoria procurada, já se antecipava e sinalizava ao longe:
- Tem não!

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