Já contei sobre Seu Basto. Disse que era homem
intolerante e não levava desaforo pra casa, embora espirituoso. Disse, também, não
tinha “papas na língua”. Um pedido esdrúxulo era o mote para sua “ira”. Certamente
Seu Basto se utilizava desses seus trejeitos para atrair clientes e fidelizar os
já conquistados. A toalha “fubenta” que trazia no ombro era também algo que
compunha aquele tipo exótico no trato cotidiano. “Grosso que só papel de
embrulhar prego”, é como o descreve Vicente Simão, de quem me sirvo para saber
um pouco mais sobre Esperança, terra que me adotou a mais de duas décadas.
Emerson Tomaz, meu companheiro de
trabalho cultural e Fabiano, aparentado do jornalista Evaldo Brasil, são os personagens do
episódio que passo a descrever. Claro que o fato se deu no bar de Seu Basto,
após uma sessão do Cine São José, atrozmente demolido para construção do prédio
que hoje serve ao Banco do Brasil, como se não houvera outro espaço que não
aquele de tanta memória.
- Seu Basto, dá pra trazer duas cocadas?
- Dar nem é preciso dar, tomem as cocadas!
Contam Emerson e Fabiano que saíram
esfomeados da sessão de cinema e aquelas cocadas eram um achado de tão
gostosas. De tão grandes bastaram para atenuar a fome que ambos sentiam. A
sede, aqui não comentada, era ainda maior que a fome. Daí os constantes pedidos
que já incomodavam o dono do bar:
- Seu Basto, traga dois copos d’água!
- Vocês querem mineral?
- Não, traga da torneira, mesmo!
E assim se seguiram os pedidos de água
após às meras duas cocadas:
- Seu Basto, traga mais dois copos d’água!
- Levo, agora, mineral?
- Não, traga da torneira, mesmo!
Aquela conversa mole ao pé do balcão se
seguia ao que Seu Basto interfere, já sem paciência:
- E aí! Vocês querem mais alguma coisa?
- Traga mais dois copos d’água, Seu
Basto!
- Da torneira, né?
- Sim! Quanto pago pelas cocadas, Seu
Basto?
Perguntou um deles, ao que Seu Basto
ironizou:
- As cocadas?
- Sim!
- Precisa pagar, não. Paguem só a água!
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