quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Tai veno!

Evaldo Brasil, ativista cultural e companheiro de ideias e labutas me cobra, quase insistentemente, que recorra ao vocabulário de Jerimum & Xiquexique nos contos que aqui publico, agora diariamente. Confesso que me policio para não fazê-lo, a dupla terá seu espaço reativado muito em breve. Evaldo, assim como Paulo Freire, sabe que não existe essa coisa de “falar errado” quando se é compreendido no meio em que a fala se dá, cotidianamente, ao alcance ou compreensão de todos. Não sabe, porém, do medo que me assola da enorme da concorrência. 
Em nossa convivência – disso ele sabe muito bem – há uma colega que me faz tremer nas bases de tão forte concorrente. Ofélia, aquela personagem televisiva de tanta repercussão, perto da colega aqui oculta, não dá um caldo, usando uma expressão já em desuso. Pérolas ela produz de forma despretensiosa e inocente quando dá de garra com o vernáculo e despeja coisas “bem audíveis aos nossos olhos”, como ela faz questão de afirmar. Os colegas, em uníssono, a elegem como um “diamante lupidado” de rara espontaneidade.
Certa feita, a fim de repassar um recado oriundo da 3ª Região de Educação, em Campina Grande, se saiu prestimosamente com a seguinte versão:
- Ligaram querendo falar contigo!
- Quem e de onde ligou?
- Foi dona Janailma. Disse que era da 3ª Religião!
Outro telefonema e a colega atende. É da Secretária Municipal de Saúde-CG, em busca de alguns dados pertinentes àquela pasta. Feita a consulta aquela nossa colega emenda uma pergunta:
- É difícil se marcar uma cirurgia de virilha?
Claro que a pessoa - do outro lado da linha - quis saber detalhes da patologia:
- Qual é mesmo o problema?
- Minha mãe precisa fazer uma cirurgia de virilha nos olhos!
Após boa investigação esclareceu-se que a patologia da qual se tratara era pterígio, uma carnosidade que ocorre por baixo da conjuntiva, geralmente na região do olho, vulgarmente é chamada de vilídia. Entre a vilídia e a virilha há uma grande distância. Para enumerar seus tropeços no vernáculo carece de uma “lesma de papel cachê” guardado sob os efeitos da “natfalina”, evitando traças e outros bichos. E, por falar em patologia, eis que um seu parente – com certeza do sexo masculino – se submetera a uma cirurgia de “prepúsculo”, prepúcio para o bom entendedor. Estou tratando de alguém com enorme carisma e espontaneidade e que, por isso mesmo, nunca se sente "recocada". Mas caso alguém lhe teça algum comentário elogioso ela, muito lisonjeada, responde que a “recícopra” é verdadeira, sem deixar de investigar: "Isso é um elogio ou uma omilhação?". 
Ocultar alguém ou algum fato não é nada recomendável para quem quer comunicar, mas pasmem os leitores, vou cometer essa desfeita à ética da comunicação. A colega ficaria “indignidada” caso viesse a publico sua fiel identidade. Iria se sentir “defumada” diante de tal revelação. E quando alguém comete um “deslize” ela dá o troco:
- Tai veno. Nossa Senhora é minha devota, os humilhados serão vencidos!

Nenhum comentário :

Postar um comentário