Evaldo Brasil, ativista cultural e companheiro de ideias e labutas
me cobra, quase insistentemente, que recorra ao vocabulário de Jerimum &
Xiquexique nos contos que aqui publico, agora diariamente. Confesso que me
policio para não fazê-lo, a dupla terá seu espaço reativado muito em breve.
Evaldo, assim como Paulo Freire, sabe que não existe essa coisa de “falar
errado” quando se é compreendido no meio em que a fala se dá, cotidianamente,
ao alcance ou compreensão de todos. Não sabe, porém, do medo que me assola da
enorme da concorrência.
Em
nossa convivência – disso ele sabe muito bem – há uma colega que me faz tremer
nas bases de tão forte concorrente. Ofélia, aquela personagem televisiva de
tanta repercussão, perto da colega aqui oculta, não dá um caldo, usando uma
expressão já em desuso. Pérolas ela produz de forma despretensiosa e inocente
quando dá de garra com o vernáculo e despeja coisas “bem audíveis aos nossos
olhos”, como ela faz questão de afirmar. Os colegas, em uníssono, a elegem
como um “diamante lupidado” de rara espontaneidade.
Certa
feita, a fim de repassar um recado oriundo da 3ª Região de Educação, em Campina
Grande, se saiu prestimosamente com a seguinte versão:
-
Ligaram querendo falar contigo!
-
Quem e de onde ligou?
-
Foi dona Janailma. Disse que era da 3ª Religião!
Outro
telefonema e a colega atende. É da Secretária Municipal de Saúde-CG, em busca
de alguns dados pertinentes àquela pasta. Feita a consulta aquela nossa colega
emenda uma pergunta:
-
É difícil se marcar uma cirurgia de virilha?
Claro
que a pessoa - do outro lado da linha - quis saber detalhes da patologia:
-
Qual é mesmo o problema?
-
Minha mãe precisa fazer uma cirurgia de virilha nos olhos!
Após
boa investigação esclareceu-se que a patologia da qual se tratara era pterígio,
uma carnosidade que ocorre por baixo da conjuntiva, geralmente na região do
olho, vulgarmente é chamada de vilídia. Entre a vilídia e a virilha há uma
grande distância. Para enumerar seus tropeços no vernáculo carece de uma “lesma
de papel cachê” guardado sob os efeitos da “natfalina”, evitando traças
e outros bichos. E, por falar em patologia, eis que um seu parente – com
certeza do sexo masculino – se submetera a uma cirurgia de “prepúsculo”,
prepúcio para o bom entendedor. Estou tratando de alguém com enorme carisma e
espontaneidade e que, por isso mesmo, nunca se sente "recocada". Mas caso alguém lhe teça algum comentário elogioso ela, muito
lisonjeada, responde que a “recícopra” é verdadeira, sem deixar de investigar: "Isso é um elogio ou uma omilhação?".
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alguém ou algum fato não é nada recomendável para quem quer comunicar, mas
pasmem os leitores, vou cometer essa desfeita à ética da comunicação. A colega
ficaria “indignidada” caso viesse a publico sua fiel identidade. Iria se
sentir “defumada” diante de tal revelação. E quando alguém comete um “deslize”
ela dá o troco:
-
Tai veno. Nossa Senhora é minha devota, os humilhados serão vencidos!
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