sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

“Só Camelo sobrevive”

Em meu último post, tratando de um susto que tivera, fiz referência a Antônio Camelo. Esse alagoano de Murici, batizado Antônio Camelo da Costa, tinha um currículo invejável, homem de rara integridade moral, fino trato e de muita objetividade. Passou por todos os setores do jornalismo do Diário de Pernambuco, onde chegara em 1946 como repórter. Era daqueles executivos que não se escondia de quantos o procurassem. Já chegava na recepção indagando “quem deseja falar comigo?”, nem deixava que sua secretária, Maristela Souto, os anunciasse. Era muito simples, embora ocupasse lugar no alto escalão dos Diários Associados. Camelo era, ainda e acima de tudo, homem de elevada cultura.
Onde quero chegar com esse introito, passo a esmiuçar. Era época do dissídio coletivo da categoria e havia certo impasse nas negociações quanto ao percentual apresentado pelos jornalistas. No vai e vem das negociações, em que pese se tratar de tema sério, havia sempre quem tirasse uma onda, talvez para quebrar aquele ambiente corrido de redação com máquinas, telefones e aparelho de telex naquela barulheira. Não sei precisar quem - se Cleriston, Lailson ou Wilde Portela, todos profissionais do traço – produzira um desenho de um Camelo que aparecera num painel em plena redação, chamando a atenção de toda a gente. Aquilo causaria um tremendo reboliço, posto que tivera endereço certeiro.
Naquela manhã adentra à redação, para checar a veracidade da brincadeira, um grande amigo do Dr. Antônio Camelo, digamos seu guardião, sem que ele mesmo o elegesse. Zuza, o babão a quem me refiro, saiu “bufando” de raiva com o que vira. Falaria com o Dr. Carmelo sobre aquela falta de respeito. Onde já se viu um homem da estatura daquele diretor executivo, servindo de galhofa numa redação de jornal. E lá foi Zuza enredar. Contou sua versão, mas só falava de galhofa sem mencionar o desenho na parede. Conseguiu chamar a tenção de Camelo e o levou à redação. Queria que ele visse com seus próprios olhos:
- Tá vendo, doutor, o que fizeram com o senhor?
Ao se deparar com o quadro na parede Camelo causou decepção ao amigo Zuza. O diretor deu uma das mais frouxas gargalhadas que já se ouvira naquele recinto:
- Muito criativo, Zuza. Isso merece um prêmio e não uma reprimenda!
Na parede além do desenho havia a seguinte frase: “No Diário e no deserto só ele sobrevive”.

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