Ontem, comemorando o "Dia dos Pais", puxei pela memória e lembrei um episódio com meu pai e alguns amigos num jogo de dominó. Era ainda criança travessa, ficava dando palpites em meio aos adultos, naquelas noites onde televisão era coisa rara não tendo tanta interferência em nossas vidas. Cadeiras nas calçadas, à
tardinha e em noites de verão fazia parte do cotidiano, mesmo numa metrópole
como Recife. Morávamos nos arrabaldes, conhecíamos toda aquela vizinhança,
diferentemente de hoje, principalmente no que tange às habitações verticais. Quanto
ao jogo de dominó lembro que enganei meu pai e dele levei uma carreira seguida
de "peia". Escondi-me num pé de goiabeira. A mesma que serviu um cipó para
meu pai ir à forra. Até os dias de hoje, nem mesmo em casa, sento em mesa de
jogo qualquer.
Só sei que foi
assim! Noite de céu estrelado e a brisa mansa, soprada dos coqueirais, era
convidativa aos velhos e costumeiros tamboretes e um tabuleiro ao centro servia
de aconchego às vinte e oito pedras brancas feitas de osso. Em “O mundo e suas
voltas” certamente encontraríamos Ana Débora explicando que “essas pedras têm
forma de paralelepípedo; Que o nome é provavelmente de origem latina ‘domino
gratias’ que significa ‘Graças ao Senhor’; Que o jogo é provavelmente de origem
chinesa
atribuindo-se sua criação a Hung Ming, um santo soldado chinês que viveu de
243 a.C
a 182 a.C”. Ana iria mais adiante, eu fico por aqui, preciso ir ao cerne da
questão e explicar meu malfeito.
Já me introduzira
entre os grandes jogadores da redondeza, fazia dupla com seu Flaviano, um
mentiroso que jogava de verdade. Meu pai – o bom e velho Manoel Soares – fazia dupla
com seu Mané Mago. Eles perdiam de cinco a zero e tudo indicava que levariam uma “buchuda”.
Àquela altura do jogo eu contava apenas uma pedra na mão, prestes a bater. Seu Flaviano, meu parceiro, faz sua
jogada; Mané Mago “toca”, faz o sinal característico de quem não dispõe de
pedra que se encaixe ao jogo. Eu “bato”, mas permaneço calado. Não faço alarde
da batida. Aí meu pai, crente que se livrara da “buchuda” explode num grito:
- Batiiiiiiiiiiiiii!
Eu abro as mãos
sobre a mesa e, ironicamente, retruco:
- Como? Se eu não
tenho mais pedras!
Gostei do retorno! Bom jogador você era, e hoje,ainda é?
ResponderExcluirÉ como disse lá acima, prima Jurema: Nunca mais me sentei à mesa de jogo qualquer.
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