Dividir para somar! No mais sublime
sentido da frase.
Seu Soares era homem rude, dócil,
intempestivo, festivo! Veio do mato e o trouxe consigo. Assimilei todos os seus
defeitos e qualidades. Sou o filho mais assemelhado a ele e, por isso mesmo,
aquele que lhe apresentava o contraditório nas questões familiares ou quaisquer
que fossem. Do mesmo modo que ele eu ganhei o mundo ainda cedo, buscando
realizações e sobrevivência. Essa simbiose nos aproximava e nos afastava.
Éramos intemperantes! Mas aquele homem era de uma grande alma.
Criei-me vendo a casa sempre cheia de
amigos e muita música naquela radiola de pés, onde os discos (long-plays)
deslizavam um a um, uns sobre os outros, a agulha fazendo a leitura em seus
sulcos, a música enchendo a casa de som e alegria. Nossa morada até parecia
casa de passagem, gente todo dia, o ano inteiro.
Era generoso com os seis filhos, sobrinhos e sobrinhas que por lá chegavam,
ficavam até casarem e tomar seus rumos. Outros, sem parentesco, tinham o mesmo
acolhimento e se tornavam membros da família. Homem “não alfabetizado” trazia um
jornal consigo, na volta das jornadas de trabalho, à noitinha. Eu, segundo mais
velho dos sobreviventes, geralmente fazia as leituras. Como usava o transporte
ferroviário tinha pontualidade nas chegadas, bem próxima às seis horas.
Tínhamos o hábito da Ave-Maria, transmitida pela Rádio Jornal do Commércio e o
Terço, em seguida, na Capibaribe.
Papai chegava, corríamos para o abraço
e sentíamos aquele seu cheiro peculiar, a nicotina vinha junto, saída dos seus
poros. Ainda suado, nos abraçava, estava em casa! Dali a pouco o café era
servido.
A herança! Nos festejos carnavalescos, juninos e natalinos, na rua em que
morávamos, era papai quem tomava a iniciativa das ornamentações e comilanças.
Saudosa memória, boas lembranças!
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