domingo, 17 de agosto de 2014

Com os “burros n’água”

Meu banzo advém dos domingos “morgados”, sem opções culturais. Ultimamente, no entanto, não me faltam afazeres em tarefas caseiras e todas ligadas ao bom uso e reuso da água. Hoje, para desfrute da natureza e delírio dos que apreciam esse balé de pingos caindo em sincronia, telhado abaixo, irrigando o milharal, engordando sementes há muito engravidadas, prestes a parir seus frutos, armo minha rede e fico de molho. Cedo me deliciei com José Guerra em sua “GAIOLA DE OURO”; Ana Débora Mascarenhas com “O quarteto fantástico” em “O mundo e suas voltas”; reli o Lautriv Mitelob. Incrível: nem fui tentado a saber os detalhes do encerramento do namoro daquele famoso jogador com a atriz global. Pela repercussão o feito deverá interferir nas bestialidades da Ucrânia x Rússia e no massacre de Israelitas contra os irmãos palestinos: Neymar, nem menos!

Já que falei em guerra, e sem banzo para lastimar, lembrarei minha primeira experiência de casado lá pra bandas dos desentendimentos normais de quem convive em comunidade. A que me refiro, recém formada, se compunha de Carlos e Parícia, há alguns meses do casório, nos longínquos anos de 1986, em Jaboatão dos Guararapes, praia de Piedade. Nada há de novo – estão aí dois tristes exemplos – a humanidade briga por tudo e por nada. No caso em tela brigamos por quase nada, o suficiente para eu dar com os “burros n’água”, aqui me valendo do velho adágio popular. O tempo era de vacas magras, bem mais que agora, quando fazíamos a feira e contávamos os “cruzados”, moeda extinta e sem valor algum. Garantíamos o básico e a pouca sobra destinava-se à farra de guloseimas: um par de Danete, o apelo gastronômico da época.

Brigamos por nada e, naquele domingo, fui só, tomar banho de mar e desopilar no futebol nas areias e no sol não tão piedosos de Piedade. No mar ou na areia mergulhava na ideia fixa de chegar em casa e, antes de qualquer coisa, sentir o sabor daquele chocolate cremoso e bem gelado. Caminhei os dois quilômetros entre o mar e o Dom Hélder Câmara, condomínio onde residia. Abri a porta do apartamento, pisei vagarosamente para não denunciar a chegada, fui à cozinha, abri a geladeira. Olhar de relance, com o parco abastecimento, veio a desconfiança de algo errado, não vi o meu potinho de Danete. Volto va-ga-ro-sa-men-te a visão e tenho a certeza que ali nada havia de chocolate cremoso, nem gelado. Astuto olho ao lado e vejo a prova do crime: o potinho estava amassado e à mostra, premeditadamente, no balde na lixeira. Ao contrário do que muitos pensam, tive um acesso misto de raiva e de riso.

E, como forma de vingança, bebi toda a água da geladeira: dei com os “burros n’água”.

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