sexta-feira, 8 de agosto de 2014

As Mentiras de seu Flaviano

TOMEI TODOS EMPRESTADOS!
Bastava o sol descer por trás dos coqueirais de Tejipió, nos arredores de Recife, e lá vinha seu Flaviano com o cachimbo fumegante, cheirando a fumo de rolo picotado lá das bandas de Arapiraca. Um por um nos aproximávamos, nos acomodávamos em volta de sua espreguiçadeira para ouvir suas mais sinceras mentiras. Aquele negro exuberante, em matéria de mentira, era de vasto repertório, quase imbatível. Perdia, certamente, para seu avô materno que, segundo ele mesmo, era profissional da mentira. Não entendia Flaviano como um ser humano precisava mentir nos moldes do avô. “Não gosto de mentiras, sou homem que cultiva verdades”. Ao contrário do que muito pensam!
Em meio às suas invencionices é interrompido por dona Lu, sua esposa, perguntando sobre o título de um livro que possuía. Solícito seu Flaviano indica a prateleira – uns mobiliários antigos, empoeirados e até pensos, alguns, abrigando uma variedade de obras – e dona Lu se volta à casa, então. As perguntas inevitáveis da criançada incrédula com as histórias do velho correm soltas, enfileiradas. Ele, quando acuado, desvia o assunto e divaga para não cair em contradição. Era esperto além de um grande mentiroso.
Somos interrompidos, mais uma vez, pela dona da casa que se achegava ao terreiro desta feita para informar do empréstimo. “E você emprestou, Lu?”, inquiriu Flaviano de modo grotesco, reprovador. “Emprestei, o rapaz é cuidadoso, devolverá em breve. Assim que terminar a leitura”. Curioso eu me inteirei daquela conversa. Dona Lu havia emprestado um dos livros daquele acervo caseiro. Seu Flaviano ajeitou-se em sua espreguiçadeira, deu um trago, uma baforada e disparou: “Lu perdemos o livro. Você sabe quantos livros, dos que temos, eu comprei?”. A mulher, desconcertada diante da meninada, acenou negativamente e viu Flaviano esbravejar como um trovão:
- Peste! Desses livros lá de dentro eu não comprei nenhum. Tomei todos emprestados!”.

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