quarta-feira, 23 de julho de 2014

Conversas com Ariano I

EU E MEU RIDÍCULO PALETÓ
Aluguei um paletó e fui ter com aquele homem importante. Dias antes havia pedido um favor a Raimundo Carrero, copidesque do Diário de Pernambuco, na metade da década de 70, depois tornado escritor da melhor estirpe pernambucana. Eu trabalhava no “protocolo”, entregava correspondências em todos os setores daquele matutino. Carrero – assim era chamado – atendeu meu pedido e conseguiu uma bolsa de estudos para uma jovem da periferia de Recife.

“Almeida, a bolsa da sua amiga está garantida”. Entregou-me um papel com dia e hora marcados para a entrega. Disse-me, ainda, que eu pegaria a "encomenda" com o Secretário. Mas quando me citou o nome senti uma tremura nas pernas: “Ariano Suassuna, Almeida. É ele o Secretário de Educação e Cultura do Recife”. No dia marcado estava lá! Aguardei minha vez, fui anunciado, entrei. Trajava um paletó da moda e vi o contraste nos trajes do Secretário.

Fiquei parado, nem sei por quanto tempo, pensando em minha mancada (hoje mico). O Secretário, solícito, convidou-me a sentar e não se limitando a entregar os “papéis”, contidos num envelope, puxou assunto. Deixou-me à vontade naquela conversa amena que durou de trinta a quarenta minutos. Ao contrário do que muitos pensam meus olhos e a mente giravam em torno da calça e camisa cáqui, mangas abotoadas e um par de alpercatas sem muito esmero. Estava diante da simplicidade daquele homem importante, proseando com Ariano Suassuna: eu e meu ridículo paletó!

Nenhum comentário :

Postar um comentário