Aluguei um paletó e fui ter com
aquele homem importante. Dias antes havia pedido um favor a Raimundo Carrero, copidesque
do Diário de Pernambuco, na metade da década de 70, depois tornado escritor da
melhor estirpe pernambucana. Eu trabalhava no “protocolo”, entregava
correspondências em todos os setores daquele matutino. Carrero –
assim era chamado – atendeu meu pedido e conseguiu uma bolsa de estudos para
uma jovem da periferia de Recife.
“Almeida, a bolsa da sua amiga
está garantida”. Entregou-me um papel com dia e hora marcados para a entrega. Disse-me,
ainda, que eu pegaria a "encomenda" com o Secretário. Mas quando me citou o nome senti
uma tremura nas pernas: “Ariano Suassuna, Almeida. É ele o Secretário de
Educação e Cultura do Recife”. No dia marcado estava lá! Aguardei minha
vez, fui anunciado, entrei. Trajava um paletó da moda e vi o contraste nos
trajes do Secretário.
Fiquei parado, nem sei por quanto
tempo, pensando em minha mancada (hoje mico). O Secretário, solícito, convidou-me
a sentar e não se limitando a entregar os “papéis”, contidos num envelope, puxou
assunto. Deixou-me à vontade naquela conversa amena que durou de trinta a
quarenta minutos. Ao contrário do que muitos pensam meus olhos e a mente giravam em torno da calça e camisa cáqui,
mangas abotoadas e um par de alpercatas sem muito esmero. Estava diante da
simplicidade daquele homem importante, proseando com Ariano Suassuna: eu e meu ridículo
paletó!
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