O primeiro surdo da Filarmônica 1º de
Dezembro tinha dono, segundo Bonifácio Batista: Era dele! Tocava com maestria
aquele instrumento que marcava o compasso de toda a banda. Além do mais era
músico conceituado entre os companheiros da Filarmônica, talvez com muito mais
influência que o próprio maestro. Julga-se isso por alguns episódios envolvendo
esse nosso “virtuoso” e os maestros que por ali passaram. Conta Vicente Simão,
sabedor dos meandros da vida esperancense de então, que Bonifácio Chuá-chuá,
durante as comemorações de aniversário da cidade, levou a plateia ao delírio,
prostrada que estava em via pública, pra ver a banda passar. Em qualquer que
fosse a ocasião, era a banda a grande sensação dos eventos de um tempo não
muito remoto na vida brasileira. As pessoas saiam às janelas ou às ruas,
enfileiravam-se para vê-la passar com a pompa e circunstância que o evento
exigia. Um verdadeiro glamour, independentemente do porte da banda de música ou
da cidade. Eram momentos mágicos com os músicos em suas fardas de gala,
entoando hinos, dobrados e encantando toda a gente.
Pois bem, foi nesse cenário glamoroso
que se deu o mais célebre episódio protagonizado por este nosso vulto
esperancense, o Chuá-chuá. Dado à importância do evento o maestro traçou um
percurso fora dos moldes e costumes. Nos ensaios da Filarmônica 1º de Dezembro
não se falava de outro assunto, era tema recorrente o rumo que a banda tomaria
pelos arruados de Esperança na festividade tão aguardada pela população. Bonifácio,
com anuência dos colegas, era porta-voz da insatisfação pela mudança de
roteiro. Não era o percurso que gostariam de fazer, mas como diz um velho
ditado “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. E juízo, conforme Vicente
Simão, não era o forte de Bonifácio Batista.
Era chegado o grande dia! Lá estava a
nossa Filarmônica, já havia percorrido toda a Rua Manoel Rodrigues, em direção
à Matriz de Nossa Senhora do Bom Conselho, quando se deu o impasse. Em frente à
Igreja a banda é convocada à “meia volta volver”, conforme o gestual do
maestro. Bonifácio se insurge contra as ordens superiores e instrui os músicos a
dobrarem à direita, desfilarem na João Pessoa, retornando pela Sólon de Lucena,
antiga Rua do Sertão. O maestro, sem perceber e para o delírio geral, volta sozinho
e só. Chuá-chuá, dali por diante, não faz mais parte da Filarmônica: É demitido
em meio à multidão!
Nenhum comentário :
Postar um comentário