segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Pra ver a banda passar

O primeiro surdo da Filarmônica 1º de Dezembro tinha dono, segundo Bonifácio Batista: Era dele! Tocava com maestria aquele instrumento que marcava o compasso de toda a banda. Além do mais era músico conceituado entre os companheiros da Filarmônica, talvez com muito mais influência que o próprio maestro. Julga-se isso por alguns episódios envolvendo esse nosso “virtuoso” e os maestros que por ali passaram. Conta Vicente Simão, sabedor dos meandros da vida esperancense de então, que Bonifácio Chuá-chuá, durante as comemorações de aniversário da cidade, levou a plateia ao delírio, prostrada que estava em via pública, pra ver a banda passar. Em qualquer que fosse a ocasião, era a banda a grande sensação dos eventos de um tempo não muito remoto na vida brasileira. As pessoas saiam às janelas ou às ruas, enfileiravam-se para vê-la passar com a pompa e circunstância que o evento exigia. Um verdadeiro glamour, independentemente do porte da banda de música ou da cidade. Eram momentos mágicos com os músicos em suas fardas de gala, entoando hinos, dobrados e encantando toda a gente.
Pois bem, foi nesse cenário glamoroso que se deu o mais célebre episódio protagonizado por este nosso vulto esperancense, o Chuá-chuá. Dado à importância do evento o maestro traçou um percurso fora dos moldes e costumes. Nos ensaios da Filarmônica 1º de Dezembro não se falava de outro assunto, era tema recorrente o rumo que a banda tomaria pelos arruados de Esperança na festividade tão aguardada pela população. Bonifácio, com anuência dos colegas, era porta-voz da insatisfação pela mudança de roteiro. Não era o percurso que gostariam de fazer, mas como diz um velho ditado “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. E juízo, conforme Vicente Simão, não era o forte de Bonifácio Batista.
Era chegado o grande dia! Lá estava a nossa Filarmônica, já havia percorrido toda a Rua Manoel Rodrigues, em direção à Matriz de Nossa Senhora do Bom Conselho, quando se deu o impasse. Em frente à Igreja a banda é convocada à “meia volta volver”, conforme o gestual do maestro. Bonifácio se insurge contra as ordens superiores e instrui os músicos a dobrarem à direita, desfilarem na João Pessoa, retornando pela Sólon de Lucena, antiga Rua do Sertão. O maestro, sem perceber e para o delírio geral, volta sozinho e só. Chuá-chuá, dali por diante, não faz mais parte da Filarmônica: É demitido em meio à multidão!

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