sábado, 13 de dezembro de 2014

Aquela sanfona branca...


A mãe não lhe queria embrenhado pelos sertões nordestinos, animando as festas de apartação, derruba de gado, casamentos, batizados, aniversários como se antecipando estivesse sua arribada para Fortaleza e Minas Gerais, no serviço militar e, daí, para o Rio de Janeiro e São Paulo, desenhando sua trajetória de sucesso com o encantamento de sua arte. Foi assim que reagiu, dona Santana, ao contrário do que muitos pensam, ao ver aquele menino se engraçando do fole de oito baixos do velho Januário. Claro que falo de Luiz Gonzaga do Nascimento, aquele menino sabido que Exú, um pedaço terra encravado no alto sertão pernambucano, presenteou ao mundo em 13 de dezembro de 1912.

Foi precisamente no povoado de Araripe, fazenda Caiçara, que Januário e dona Santana ouviram o primeiro choro do pequeno Gonzaga, o matuto mais astuto que a música brasileira concebeu. Naquele ambiente de trabalho roceiro, a lida com o gado, a passagem árida da seca e as andanças com o velho Januário, arrastando seu fole acompanhado pelo toque do triângulo e zabumba, foi que Luiz encontrou a fonte inesgotável de poesia e encanto pelas coisas da terra: sua gente e seus costumes.

A genialidade de Gonzaga e reconhecimento por sua obra nunca o afastaram de suas raízes. Luiz, sem dúvida, tinha a exata noção do que representava, mas seus traços nobres não ficaram pelo caminho. O sotaque nordestino que fazia questão de enaltecer e outros atributos ele levou consigo vida afora. Ouvi de Gildson Oliveira e Rui Cabral ao tempo de minha estada no Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio, respectivamente e, a bem pouco tempo, em conversa de camarim com o consagrado Pinto do Acordeom com décadas na companhia de Gozaga , relatos de suas vivências com o Rei do Baião. O tino artístico, a perspicácia, o humor inteligente, a simplicidade e a generosidade eram, segundo os depoimentos, as maiores virtudes do velho Lua.
E eu canto com Benito Di Paula: “Aquela sanfona branca / Aquele chapéu de couro / É quem meu povo proclama / Luiz Gonzaga é de ouro / Aquele tom nordestino / A voz sai do coração / É ele o rei do baião, é Luiz / É cantador do sertão É filho de Januário / É quem canta o Juazeiro / É festa, é povo, Luiz alegria / Luiz Gonzaga é poesia”.

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