quinta-feira, 9 de abril de 2015

Um Deus risonho

Eu deveria iniciar este post da seguinte forma: Amanhã, dia 10 de abril, irei ao lançamento de "Uma superfície de gelo ancorada no riso: a atualidade do grotesco em Hilda Hilst", obra que nasce na tese apresentada pelo professor Reginaldo Oliveira Silva como exigência parcial a obtenção do título de doutor em Letras, na área de concentração Literatura e Cultura (UFPB). O evento ocorrerá às 18:30h, no auditório III da CIAc, o Centro de Educação-UEPB. Mas declinarei de toda essa formalidade cujo gênero não me apraz. Preferiria iniciar como aqueles contos pueris fazendo jus à minha síndrome, onde o narrador se esmera para chamar a atenção da criançada atenta ao que virá em forma de palavras que enchem de fantasia suas almas.
Esse Reginaldo de quem lhes falo é o tipo do adulto com alma pueril, aproveita qualquer “vácuo” em suas aulas para fazer piada inteligente, acurada e, até, sarcástica em seu melhor sentido. Então bem que poderia iniciar como uma contação de histórias infantis: “Era uma vez um professor que pensou num tema/tese de doutorado. Aí ele buscou em Hilda Hilst, uma discussão sobre recepção e o fluxo do grotesco, tomando como corpus literário Contos d’Escárnio/Textos Grotescos, daquela escritora, fundamentando-se na estética da recepção, elaborada pelo escritor alemão Hans Robert Jauss, outro menino sabido, um dos expoentes da estética da recepção, cujos fundamentos estão na própria crítica literária alemã”.
Também não sairia, decerto, ao agrado de Reginaldo. Ele gosta mesmo, apesar daquele jeito sério, metódico é de sorrir e provocar risos. Talvez por isso tenha escolhido o historiador Georges Minois em um dos pensamentos que surgem, por assim dizer, como prólogo: “Tendo rido Deus, nasceram os sete deuses que governam o mundo. Quando ele gargalhou, fez-se a luz. Ele gargalhou pela segunda vez: tudo era água. Na terceira gargalhada, apareceu Hermes; na quarta, a geração; na quinta, o destino; na sexta, o tempo. Depois, pouco antes do sétimo riso, Deus inspira profundamente, mas ele ri tanto que chora, e de suas lágrimas nasce a alma. O universo nasceu de uma enorme gargalhada. Deus, o Único, qualquer que seja seu nome, é acometido – não se sabe de que – de uma crise de riso louco, como se, de repente, ele tivesse consciência do absurdo de sua existência”.
Gosto de imaginar o mundo (ao contrário do que muitos pensam) como o quintal de minha casa tendo um Deus risonho a contemplar todas as minhas peripécias. Um Deus que só saiba contar até um, Deus criador dos homens, jamais o Deus que os homens criaram e, até, matam em nome dEle!

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