Hoje, pela manhã, algumas décadas mais tarde, curtindo o mar de Cabo Branco, escutava uma música que me remeteu a essas tão remotas lembranças. Aquela melodia, aquela letra me transportaram àquele "arruado", onde bem de longe se ouvia o canto do Procnias nudicollis, o popular “ferreiro”, o pássaro araponga. Aquela casa rodeada de árvores e gaiolas nos alpendres enchiam nossos olhos de espanto e prazer com suas maravilhas. Aos 12 anos não tinha a mínima noção de ecologia, nem a concepção de que aqueles passarinhos nos encantariam muito mais se soltos estivessem na natureza.
Estávamos na segunda metade dos anos 60. Seu Orestes cuidava de suas gaiolas e dos apiários naquela casa grande de esquina, lá na Rua Guanabara, em Tejipió. Seu Orestes era um homem de fisionomia fechada, calvície bem acentuada e seus poucos cabelos brancos. A dona da casa, dona Rosa Álfaro de Vasconcelos, era mulher prendada nas artes culinárias. Lá comprávamos mel das abelhas de Seu Orestes, dona Rosa nos atendia com toda presteza. A compra do mel era uma bela desculpa para ouvir, daquele homem de feições rudes, seus conselhos e ensinamentos sobre como lidar com aves e abelhas. Em minha mente de criança seu Orestes era um coronel, com aqueles trajes sempre em linho branco e sua cadeira de balanço empalhada.
https://www.youtube.com/watch?v=g_u3Y-t1B-4
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