quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Último adeus



Era ainda muito criança quando a conheci. Lembro da viagem, estrada afora, cujos detalhes se foram, apagados pelo tempo. Viva, muito viva, tenho à memória, todo aquele cenário da Rio Una que me acolheu nos idos da década de 60.  Antônio Florisvaldo, meu irmão mais velho, me levara para conhecer sua noiva e familiares, o ano era 1962.


O lugarejo localiza-se no município de Barreiros, zona canavieira, ao Sul de Pernambuco. Um vasto campo arborizado, gado pastando, carros-de-boi fazendo o pequeno tráfego de canas e mangaios enchiam minha visão pueril. Trago na memória, bem fresquinhas, as lembranças do banhos com sabonetes Eucalol, dos quais ainda sinto o cheiro ao fechar os olhos. Os filmes de Chaplin, do Gordo e o Magro, o amendoim à entrada do pequeno cinema... Tudo, tudo às expensas dos anfitriões.



A vila de Rio Una abrigava, em seu casario, os trabalhadores da usina do mesmo nome. Seu Manoel Fernandes, sogro do meu irmão e pai de Graça, a noiva, era alto funcionário na Rio Una com suas caldeiras e moendas já em processo de falência. Era homem de fisionomia fechada contrastando com seu largo sorriso. Mas é de Dona Josélia que pretendo lembrar. Aquela mulher de voz branda, traços, passos leves e finos gestos, era por assim dizer uma verdadeira lady inglesa. Este contato com dona Joselita (assim a tratávamos) abre, para mim, uma janela para o mundo da polidez. Não era de se notar que aquela senhora fosse mãe de seus oito filhos com seus tantos afazeres de dona-de-casa.


Após a travessia, lembro bem, aceno aos que se encontram na outra margem do rio. Lá, também, estava dona Joselita. Havia quase trinta anos quando reencontro dona Joselita com minha cunhada Gracinha, o sobrinho Toni, alguns filhos netos. Mais uma vez, agora na longínqua Santo André, ABC paulista, aceno com mais um adeus.


Hoje, pela manhã, recebo notícia de sua partida aos 94 anos: Último adeus!

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