Era ainda
muito criança quando a conheci. Lembro da viagem, estrada afora, cujos detalhes se foram, apagados
pelo tempo. Viva, muito viva, tenho à memória, todo aquele cenário da Rio Una
que me acolheu nos idos da década de 60. Antônio Florisvaldo, meu irmão mais velho, me
levara para conhecer sua noiva e familiares, o ano era 1962.
O lugarejo
localiza-se no município de Barreiros, zona canavieira, ao Sul de Pernambuco. Um
vasto campo arborizado, gado pastando, carros-de-boi fazendo o pequeno tráfego
de canas e mangaios enchiam minha visão pueril. Trago na memória, bem
fresquinhas, as lembranças do banhos com sabonetes Eucalol, dos quais ainda
sinto o cheiro ao fechar os olhos. Os filmes de Chaplin, do Gordo e o Magro, o amendoim
à entrada do pequeno cinema... Tudo, tudo às expensas dos anfitriões.
A vila de
Rio Una abrigava, em seu casario, os trabalhadores da usina do mesmo nome. Seu
Manoel Fernandes, sogro do meu irmão e pai de Graça, a noiva, era alto
funcionário na Rio Una com suas caldeiras e moendas já em processo de falência.
Era homem de fisionomia fechada contrastando com seu largo sorriso. Mas é de
Dona Josélia que pretendo lembrar. Aquela mulher de voz branda, traços, passos
leves e finos gestos, era – por assim dizer – uma verdadeira lady inglesa. Este contato com dona Joselita (assim
a tratávamos) abre, para mim, uma janela para o mundo da polidez. Não era de se
notar que aquela senhora fosse mãe de seus oito filhos com seus tantos afazeres
de dona-de-casa.
Após a travessia,
lembro bem, aceno aos que se encontram na outra margem do rio. Lá, também,
estava dona Joselita. Havia quase trinta anos quando reencontro dona Joselita
com minha cunhada Gracinha, o sobrinho Toni, alguns filhos netos. Mais uma vez,
agora na longínqua Santo André, ABC paulista, aceno com mais um adeus.
Hoje, pela
manhã, recebo notícia de sua partida aos 94 anos: Último adeus!
Nenhum comentário :
Postar um comentário